Re-Descobrir-me
Quase todos nós tivemos uma bicicleta em criança, a tal onde aprendemos a andar, a tal em que ganhámos todas as corridas,a tal em que nos espalhámos á grande, e como se não bastasse, aquela bicla que sempre foi o derradeiro veículo de exploração . No meu caso a bicicleta onde aprendi a andar era daquela espécie que os putos chamavam de Harley Davison que na verdade não passava de um GINGA . Azul não-lembra-ao-diabo a derribar para o cueca, banco preto longo em napex, caprichosamente curvado para dar forma a um encosto de costas que acabava num arco de ferro cromado o que lhe dava o derradeiro look Chooper. O volante era cromado ja bastante picado de ferrugem com punhos acastanhados (outrora brancos) e uma campaínha essa sim cor de ferrugem e que não tocava por estar calcinada fazia anos. Sempre desejei conduzi-la , invejava a minha irmã passeando se com ela em intermináveis voltas pela praceta em frente á nossa casa. Nunca esquecerei o dia em que a minha irmã me ensinou a andar, não que me lembre de que dia do mês ou em que mês, mas lembro me onde foi e que era primavera. Depois de algumas tentativas a bicicleta começou a rolar, á medida que saía da sombra do tunel de estacionamento que existe debaixo do meu prédio para o sol sentia que a bicicleta acelarava. Na mente a confiança que a minha irmã agarrava firmemente no aro de metal do banco fazia me avançar sem receios , sentia me equilibrado sentia me em controlo. Pelo menos até a ver distante de mim com os polegares para cima e com um sorriso vitorioso.
A partir desse dia sempre andei de bicicleta, mal sabia ela a guerra que seria para andar na bicicleta agora que a tinhamos que dividir. Não durou muito a batalha visto que depois do verão sou surpreendido no dia dos meus anos com uma bmx na casa de banho. Que loucura , que boa prenda, alias das melhores pois acho que so deixei de andar nela quando as minhas pernas cresceram e começaram a bater no volante.
Até tive mais uma bmx pela qual não nutri tanto amor, nem dei o mesmo uso. Chegaram as montanhas, os grandes raids com o Zé Rui com o Sérgio e com o Hugo debaixo de um sol abrasador, até que tive a montanha dos meus sonhos. Uma bicicleta de montanha que na altura era demasiado cara para o meu bolso, e dos meus pais também, mas como a queria tanto com alguma imaginação e trafulhiçe la a consegui trazer por um terço do preço depois de uma saga cascaisshoping-rinchoa atrelado á chooper do Carlos.
Era toda amarela, tirando o volante que substituí por um especial de corrida, roxo cromado como ninguem tinha na altura. Nela andei bastante, fiz grandes raids, adorava descer a serra a grande velocidade ( talvez daí venha o meu bichinho das motas), levei para a escola , para as férias, para namorar, e finalmente quando ja estava muito velhinha usei a para ir para mem martins tirar a carta. Esse papel cor de rosa (na altura) que me fez esquecer das bicicletas por um longo periodo.
Até ao dia em que voltei a ver as Bmx´s e me apaixonei perdidamente não so pelo objecto mas pela arte de o dominar, como de uma extensão do nosso corpo se tratasse. E foi aí que percebi que a bicicleta não acaba nos punhos mas sim na ponta dos nossos pelos, foi aí que percebi porque raio esta bicicleta ainda era feita. É engraçado que tive que crescer para disfrutar de uma bicicleta de putos, para perceber a essência daquele brinquedo. Tive que crescer para perceber que o verdadeiro divertimento é desenvolver capacidades que estão dentro de nós como potência, e enquanto escrevo este post anseio como um miudo irrequieto que as horas passem para poder estar com a minha bicla outra vez...
Ride On