O ermita e a moça bonita
Cansado de ser fustigado pelos gelidos ventos que se fazem sentir na montanha, o ermita levanta se da pedra fria que tem servido de cama. Com os membros enregelados e com varias gretas nas mãos e nos pés atira se a uma caminhada perigosa, a descida á aldeia. Não é a coisa que faça com regularidade, pois ele próprio renunciou toda aquela agitação, todos aqueles olhares reprovadores. Existe um ditado que gosto especialmente, porque as suas origens são tão primitivas e puras que é irrefutavel na sua conclusão:
" A necessidade aguça o engenho".
Nada explica melhor as punções abstractas que nos lançam em trajectórias incoscientemente escolhidas mas com pontos de chegada bem defenidos.
O ermita avança montanha a baixo sem perceber muito bem porque mas com algo que o move por dentro. As suas barbas queimadas pelo frio revelam o desleixo , a falta de amor próprio e mesmo por dentro ele sente se porco, sujo, fragil...
Da penumbra do bosque lentamente desvenda se o seu vulto caminhante, para logo se esconder na sombra das esquinas e dos telheiros. Vagueia pela aldeia sem querer ser visto, acto cobarde pois ele tem medo dos olhares reprovadores, a sua auto estima é como um trapo jogado na lama e inconscientemente puxa-o para a escuridão aconchegante das sombras.
De repente pelas costas e sem que nada o fizesse prever é surpreendido pela mais bela moça da aldeia, a mais bela moça que seus olhos ja viram. A sua beleza aquece o coração do velho ermita, e o seu sorriso arrasa com o cenário de inverno que os rodeava, á volta dos dois forma-se um circulo de luz, de cor, como se nesse mesmo circulo alguem despejasse toda a magia da primavera. Os dentes podres do ermita aparecem por baixo dos lábios gretados enquanto o sorriso estala a pele seca de um rosto que esqueceu como era sorrir.
Que frustrante saber que este cenário desaparecerá tão rapido como apareceu, os dois sabem que não é possivel embora para o mendigo a recusa de um desejo tão forte seja estupida ao ponto de ter que se enganar a si próprio para a digerir, esfregar areia nos olhos para que estes vertam lágrimas de sangue que colem as suas palpebras a fim de não a ver mais.
Ele nunca devia ter descido porque é que o torna a fazer?
A rapariga gosta dele, vê se na maneira que olha para ele, tem um carinho especial que sem que se aperceba se transforma em pena quando o vê fugir montanha acima chorando sangue...
Volta se a sentar na sua pedra, sente o vento gélido na sua cara, e por la fica...
A esperança que a mais bela das moças que os meus olhos ja viram me venha chamar la a cima nunca morreu.
Infelizmente para mim....
1 Comments:
Não é "infelizmente" se a tiveres guardada numa gavetinha.
Basta que a espera só te doa para te lembrar uma face bonita.
*;)
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